Morre mais um torturador da Ditadura Militar
Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel reformado e ex-comandante do DOI-Codi-SP entre 1970 e 1974 (Foto: Sérgio Lima/Folhapress)
Morreu na madrugada desta quinta-feira (15), em Brasília, o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, de 83 anos, que foi chefe do DOI-Codi do II Exército, em São Paulo, órgão de repressão política durante a ditadura militar. Ele havia sido internado no Hospital Santa Helena para tratamento de um câncer.
Durante o período em que Ustra chefiou o DOI-Codi, de 29 de setembro de 1970 a 23 de janeiro de 1974, foram registradas ao menos 45 mortes e desaparecimentos forçados, de acordo com relatório elaborado pela Comissão Nacional da Verdade, que apurou casos de tortura e sumiço de presos políticos durante os governos militares.
Vale ressaltar que, embora tenha sido o primeiro militar brasileiro a responder por um processo de tortura durante a ditadura (1964-1985), Ustra, grande assassino da ditadura brasileira, morreu impune.
Deveria-se comemorar sua condenação criminal na Justiça, pois isso é o que ele merecia. A morte vem para todos, não é uma retribuição pelo que foi feito em vida. Porém, dedica-se a ele este poema:
OBITUÁRIO COM HURRAS, de Mario Benedetti
“Vamos lá, vamos festejá-lo
estão todos convidados
os inocentes
as vítimas lesadas
os que gritam de noite
os que sonham de dia
os que sofrem no corpo
os que alojam fantasmas
os que pisam descalços
os que blasfemam e ardem
os pobres congelados
os que amam alguém
os que nunca se esquecem
vamos festejá-lo
estão todos convidados
o crápula morreu
acabou-se a alma negra
o ladrão
o porco
acabou-se para sempre
viva
estão todos convidados
vamos festejá-lo
para não dizer
que a morte
apaga sempre tudo
tudo purifica
num dia qualquer
a morte
não apaga nada
ficam
sempre as cicatrizes
viva
morreu o cretino
vamos festejá-lo
e não chorar como de hábito
que chorem os que são como ele
e que engulam suas lágrimas
foi-se embora o monstro magnata
acabou-se para sempre
vamos festejá-lo
sem ficar mornos
sem acreditar que este
é um morto qualquer
vamos festejá-lo
sem ficar frouxos
sem esquecer que este
é um morto de merda.”