Negligência lidera violência contra idosos
Falta de cuidados, agressões verbais e exploração financeira são algumas das violações, praticadas principalmente por familiares
Entre 2013 e 2014, denúncias de maus-tratos contra idosos aumentaram 22% no Estado
Na fase da vida em que se tornam mais frágeis por causa da idade avançada, idosos parananenses estão sendo vitimados pela violência que, muitas vezes, ocorre dentro de casa. De acordo com estatística levantada pelo serviço Disque Idoso, coordenado por Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (Seds), as denúncias de ações violentas e violações de direito contra pessoas com mais de 60 anos aumentaram 22% no Estado, passando de 1.770 para 2.167 ligações de 2013 para 2014. Uma em cada três ligações é referente a negligência e abandono, praticados pelos próprios familiares.
A realidade é bem conhecida dos profissionais que trabalham em instituições de longa permanência, antigamente chamadas de “asilos”. Assistente social do Lar dos Vovôs e Lar das Vovozinhas Gilda Marconi, Marta Rosa conta que 80% dos idosos que chegam ao local após triagem da Secretaria Municipal do Idoso foram de alguma forma negligenciados. “São vítimas da violência física, psicológica e financeira, além da negligência em relação aos cuidados diários ou mesmo auto negligência”, diz, referindo-se, no último caso, àqueles idosos que não têm mais condições de cuidar de si próprios e continuam sozinhos. O Lar tem 70 vagas, sendo 62 para a secretaria. A demanda, porém, é muito maior. “Recebemos pelo menos dez ligações diárias pedindo vagas”, conta.
As histórias dos moradores são chocantes: pessoas acometidas pelo Alzheimer que apanham dos próprios filhos, idosos cuidados por usuários de drogas, acamados abusados sexualmente por familiares e até mesmo um senhor que teve os pés comidos por ratos. “A violência psicológica é a mais comum. Eles são vítimas de xingamentos, agressões verbais e apontados como um ‘peso’ para os filhos, que não têm paciência com suas limitações”, continua.
Os casos de negligência muitas vezes são acompanhados de exploração financeira. Mesmo aqueles que são enviados para as instituições continuam em situação de exploração. “Muitos chegam aqui com 60% do benefício comprometido por empréstimos. Tem filhos que só vêm visitar os pais no dia em que recebem a aposentadoria”, lamenta, acrescentando que há casos ainda de agências que fazem empréstimos e enganam os idosos, mentindo sobre os juros ou prazo de pagamento. As violações de direito são todas denunciadas ao Ministério Público (MP).
Negligência
No Asilo São Vicente de Paulo, a realidade não é muito diferente. A instituição possui cem vagas conveniadas à Secretaria Municipal do Idoso – todas preenchidas. “A maior causa de violência é a negligência da própria família. Temos histórias muito tristes, como a de um idoso que chegou até nós depois de passar fome. Ele não conseguiu sobreviver”, relata a assistente social Ângela Ramalho Sanches, que vê com tristeza o fato de muitos familiares raramente voltarem ao asilo para uma visita.
Segundo ela, as famílias que levam os idosos à instituição por não terem condições de cuidar costumam ser mais presentes. Já aqueles que negligenciam parecem não se esforçar para manter os vínculos. Ainda assim, é recorrente entre os idosos jamais acusar os parentes negligentes. “Eles sentem muita tristeza, mas jamais ‘entregam’ os filhos.”
(FONTE: CAROLINA AVANSINI – FOLHA DE LONDRINA)