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terça-feira, 10/12/2013

Mandela e Fidel, relação especial

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Mitos do século XX, governantes da África do Sul e Cuba inspiraram-se mutuamente. Para Mandela, presença cubana na África foi vital contra apartheid

 

Um Nelson Mandela adocicado, quase insosso, emergiu dos noticiários horas depois de morrer. Especialmente no Brasil, aponta-se o líder sul-africano como uma espécie de unanimidade, alguém que dirigiu o desmonte do apartheid quase sem enfrentar oposição.

 

Neste sentido, ele seria o antípoda de gente como… Fidel Castro — este, rancoroso, ranzinza e ressentido. Publicado no último dia 6, um texto de Hirania Luzardo, editora senior do Huffington Post, mostra que tal visão é absolutamente fictícia. Além de manterem longa amizade pessoal, Mandela e Castro inspiraram-se mutuamente e cooperaram de forma intensa.

 

O triunfo da Revolução Cubana, de 1959, inspirou o jovem Mandela a articular o braço militar do Congresso Nacional Africano (ANC/CNA). Denominada Lança da Nação (Umkhonto we Sizwe, na língua zulu), foi fundada 16 de dezembro, junto ao Partido Comunista da África do Sul, como resposta à sistemática opressão política, social e econômica movida contra a população negra, mestiça e indiana da África do Sul pelo regime político do Apartheid. Ou seja: Mandela compreendeu que a conquista de igualdade racial exigiria ruptura radical com o status quo.

 

Além disso, a presença militar cubana no sul da África contribuiu com a queda do regime de apartheid. Entre 1974 e 1980, logo após a independência de Angola, cerca de 300 mil soldados cubanos foram enviados à região, em apoio ao governo recém-formado em Luanda — que sofria ameaça de tropas ligadas à vizinha África do Sul e EUA. Esta presença debilitou militarmente o exército racista sul-africano. Em paralelo, Cuba participou com brigadas militares e médicas em diversos países africanos. De tal sorte que, a primeira campanha de vacinação contra a poliomielite realizada no Congo, foi organizada por médicos cubanos – décadas antes do Brasil fazê-lo.

 

Após sair da prisão (em 1990), a primeira ação de Nelson Mandela foi visitar Cuba, no ano seguinte, para expressar sua admiração e respeito pelo regime do país. ”Quem treinou o nosso povo, quem nos forneceu recursos, que ajudaram tanto nossos soldados, nossos doutores?” perguntou Nelson Mandela a Fidel Castro durante sua visita a Havana. “Quando você vem nos visitará?”.

 

Isso ocorreria em 1994. Nelson Mandela elegeu-se presidente na primeira eleição democrática após o desmantelamento das leis discriminatórias. Fidel foi convidado de honra à cerimônia de posse. E ouviu um elogio sentido: “O que Fidel tem feito por nós é difícil descrever com palavras. Primeiro, na luta contra o apartheid, ele não hesitou em nos dar todo tipo de ajuda. E agora que somos livres, temos muitos médicos cubanos trabalhando aqui”.

 

A relação diplomática formal entre Cuba e África do Sul foram estabelecidas em 11 de maio. Em toda África, há cerca de 4 mil médicos cubanos. Para o aniversário de 90 anos de Mandela, Fidel enviou uma mensagem parabenizando-o:

 

“Glória á ti, Nelson, que passou 25 anos na prisão defendeu a dignidade humana! Calúnia e ódio não puderam fazer nada contra a sua resistência de aço. Você foi capaz de resistir e sem saber, ou almejando ser, você se tornou um símbolo do que há de mais nobre na humanidade. Você vai viver na memória das futuras gerações, e na memória dos cubanos que morreram defendendo a liberdade de seus irmãos em outras terras do mundo “.

 

*Fonte: artigo escrito por Caue Seigne Ameni e publicado no blog Outras Palavras.

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